Atualmente estamos presenciando um novo despertar do Feminino, tanto na política pelos movimentos feministas quanto no espiritual pelo resgate da sacralidade feminina. Nas últimas décadas vem crescendo cada vez mais o foco pelas revivificações de tradições antigas, matriarcais, redescobrimento dos aspectos yin da natureza humana. Homens e mulheres trazem para a sua rotina diária qualidades que foram reverenciadas no passado. Após milênios de opressão e dominação do aspecto yang, masculino, patriarcal e autoritário, o Sagrado Feminino deixa o ostracismo e torna-se visível à luz dos dias atuais.
O que representa o Sagrado Feminino?
Sintetizado no aspecto de uma Grande Mãe, ela simboliza a totalidade e a unidade da vida, que reside de forma holística em todos os seres do universo, sejam pessoas, animais, plantas e toda a biodiversidade. Ela também representa a própria força da vida, os ciclos da natureza, e ela sendo a natureza em si. Estes conceitos e simbologias são tão antigas quanto nossa vida na terra, pois desde os primórdios, a natureza sempre foi vista como geradora e mantenedora de toda a vida. Desta forma, simbolizada como a Grande Mãe e em seus mitos, ela foi trazida para cultos ancestrais e reverenciada sob diversas manifestações, nomes e tradições.
As origens do Sagrado Feminino
As primeiras sociedades adquiriram o culto central da Deusa reafirmando seu papel de geradora da vida, assim cada povo possuía seu próprio simbolismo. Sendo regente destas sociedades matrifocais, matrilineares e matriarcais, com a passagem do nomadismo para a agricultura fortaleceu a sobrevivência da espécie humana indicando uma nova fase civilizatória e tecnológica.
Com o passar do tempo, as mudanças causadas pelo fator e incentivo da guerra de conquista, propriedade privada, o culto foi centralizado em divindades masculinas de autoridade, as antigas tradições matriarcais foram cedendo lugar e mais tarde, subjugadas e oprimidas. Este ciclo tratou de evidenciar o aspecto da violência como força política, a técnica como instrumento de guerra, o poder econômico como sagrado. Instaurando o binarismo maniqueísta em seus valores, grandes religiões organizadas junto com os Estados nacionais desencadearam um processo de autodestruição dos povos, pela ganância e poder.
O resgate do Feminino
De volta ao presente, começamos a presenciar gradativamente que o desequilíbrio causado pelo ciclo patriarcal gerou a necessidade de resgatar a harmonia e restaurar o equilíbrio entre as forças. O retorno do Sagrado Feminino trouxe consigo, não somente as reivindicações dos movimentos emancipatórios feministas, mas também dos povos originários, de gênero como o LGBTT, ambientalistas, étnicos, de raça e até trabalhistas. A História, geralmente contada pelas versões dos vencedores, atualmente ressurge com revisões e ressignificações notáveis, estimulando novas tradições reavivarem antigos aspectos do sagrado.
Sejam quais forem suas crenças e representações do feminino saiba que o conceito de Grande Mãe estará sempre lá, ou na forma da antiga Ísis, Ishtar, Yemanjá, na forma da natureza como a Mãe Terra ou Gaia, cristã como Maria, dos ideais civis como Athena e Justitia, ou simplesmente como nossas mães criadoras.
As ilusões do patriarcado
Um sistema de valores, corpo de pensamentos, crenças e práticas são as condições históricas para o que chamamos de patriarcado, a força de poder e repressão do Feminino, radicado há milênios tanto nas doutrinas religiosas quanto nos sistemas sócioculturais. Atentos à história dos ciclos, podemos perceber que os danos do patriarcado são complexos pois gravitam em questões de crenças e costumes. A misoginia, o sexismo cultural e a imposição de valores globais de identidade, religião e sociedade são incorporados cotidianamente na vida de todas as pessoas, incluindo as mulheres.
Assim, ao reproduzir este sistema de valores e crenças, ajudamos a reproduzir a ilusão de uma sociedade evolutiva. A autoridade, o medo e o controle ajudam a reprimir o aspecto yin feminino e enaltece unicamente o lado yang. A ideologia dominante censura e controla as versões da História, detendo assim a ilusão na realidade.
Então, o que isso significa para recuperar o sagrado feminino?
Os homens são nutridos e gerados pelo feminino. Porém, a sua relação com esta força foi alimentada por muito tempo pela ideia de dominação, impedindo o equilíbrio, seu próprio e dos ecossistemas. O capitalismo, os princípios e valores morais, os dogmas ajudaram a transformar o conceito de mundo, na ausência do princípio da harmonia e a interação. Novas gerações reinterpretam estes conceitos e passam a substituir pelos antigos. Estes novos movimentos trazem à tona questões ético-morais e possibilitam evidenciar os padrões comportamentais que podem ser descartados e enfrentados.
No limiar de novas revoluções que possam ser alternativas ao status quo vigente, a manifestação de “novos” valores, vindos das ruas, das etnias, dos movimentos de reconstrucionismo neopagão, na orientação das crianças índigo e na tentativa coletiva de reconstruir formas históricas num contexto moderno, o Sagrado Feminino é um movimento pela expressão cultural e social e espiritual pela paz e pela irmandade humana.
Em resumo, a terra está entrando em um processo de cura, graças a retomada do Sagrado Feminino. Velhos paradigmas estão sendo rompidos e nós já estamos testemunhando essas mudanças.
Crédito das imagens: John Poppleton
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