Como Alzheimer de minha mãe me ensina a lidar com a doença e comigo mesmo

O que ela está precisando apagar da sua memória e eu, como filho, preciso aprender com o Alzheimer?

Este diagnóstico não é recente, já temos ciência dele há alguns anos, mas só agora a doença começa a mostrar sua presença. Este mal invade a vida do paciente e seus efeitos têm alcances devastadores atingindo toda a família. O Alzheimer é uma doença que se estende por mais de uma década, afetando a memória do enfermo, apagando de sua mente a própria história e de todas as pessoas que convivem com ele.

Desta vez sinto vontade de escrever, não como profissional que publica assuntos médicos, mas sim como filho e membro de uma família. Nós todos conhecemos as consequências do Alzheimer, e juntos buscamos equacionar uma melhor maneira de navegar por águas turbulentas de tempestades avassaladoras.

Na primeira fase da doença, para conviver melhor com a notícia e ver por um olhar otimista, procuramos conviver com o lado engraçado e tragicômico dos esquecimentos e das repetições.

A Dona Catherine Bazzi, conhecida carinhosamente como Keti, hoje com seus 74 anos de idade, não aparenta a idade que tem. Vaidosa e cuidadosa é uma pessoa muito divertida, no estilo daquela vovó que esquece das coisas, divertindo a todos com suas estórias. Os netos fazem vídeos, postam e todos acham muito engraçado. Ela mesma dá muitas risadas com seu próprio esquecimento.

Obviamente, por detrás desta alegria estratégica, existem preocupações, incertezas e um grande desconforto de não lembrar de coisas importantes do dia a dia. Há muitas situações não tão alegres e desconcertantes, como o de por vezes não lembrar os caminhos cotidianos. Ela se sente muito feliz em poder dirigir sozinha, sentir-se livre e não dependente de ninguém para fazer suas coisas, mas sabemos que com a progressão do Alzheimer, isso não será mais possível.

Gradativamente, os esquecimentos começam a perder a graça e passam a atingir a vida de todos que convivem de perto e a apoiam. Impactam a vida daqueles que se esforçam para que ela possa desfrutar seguramente da sua liberdade.

A evolução do quadro começa a revelar um comportamento, por vezes, um pouco mais agressivo. Trata-se de uma repetição mais pessimista dos fatos do dia, com atitudes de reclamação, lamentações e de um convívio mais pesado para as pessoas que estão mais próximas e mais envolvidas. A paciência já não é a mesma.

Esta é a descrição da fase do Alzheimer em que atualmente estamos vivenciando. A tempestade nem começou, somente foi anunciada. Sabemos que a evolução e o prognóstico são ruins, lentos e devastadores, não só para o paciente, mas principalmente, para os familiares cuidadores. Acredito que o paciente, pelo fato da memória se desvanecer, e pelo processo de alienação, pode estar preservado dos sofrimentos.

As próximas fases, progressiva e lentamente, abala mais do que a memória cognitiva.  Afetam também a memória da musculatura, o que compromete os movimentos. A memória das vísceras também é comprometida, implicando na inércia da fisiologia. E assim, aos poucos, a pessoa vai se apagando cognitiva, funcional e existencialmente. Este processo se estende em câmera lenta, prolongando-se por muitos anos, podendo chegar a mais de uma década.

Este tipo de doença desapossa o direito do envelhecer saudavelmente e com dignidade. Os avanços da medicina possibilitam, de certa forma, melhorar a qualidade de vida do paciente e da família, prolongando o tempo de impacto limitador da doença. A atenção a quatro eixos principais como: a medicação, atividade física, alimentação e atividade cognitiva podem alongar e melhorar as condições, implicando em menos sofrimento. No entanto, a medicina ainda está longe de poder oferecer recursos para debelar este quadro degenerativo.

Agora penso na pergunta que fiz a mim mesmo no início desta matéria, sobre o que eu como filho poderia perceber e aprender com tudo isso?

Escrever sobre a mamãe Keti me faz refletir sobre um outro aspecto, um quinto eixo talvez, que com certeza, também não reverteria a doença, mas acredito que poderia melhorar mais a qualidade de vida tanto dos pacientes, mas também e, talvez principalmente, da família que vai contabilizar boa parte dos prejuízos na fase final da doença.

A resposta é o amor.

Mas não sobre o conceito psicológico ou comportamental que a palavra amorosidade possa representar, mas sim de uma energia de amorosa, talvez algo que possa se equivaler, guardadas as devidas proporções, a energia amorosa que uma mãe dedica e investe para que seu filho sobreviva e cresça.

O próprio processo de envelhecimento traz uma condição de regressão, quando depois da fase adulta o ser humano involui biológica e psicologicamente. Ele vai deixando de ser matéria e vai sendo preenchido por uma essência mais espiritual, mas energética.

Esta doença, por se tratar de um processo degenerativo altamente limitador, levando o indivíduo a uma condição mais primitiva do estado do ser. O encaminha de forma mais profunda a um alienamento da existência material tridimensional. Mas me pergunto: como seria a manifestação da essência energética espiritual?

Atendimentos utilizando a energia da amorosidade em pacientes terminais, sob os cuidados paliativos e recursos da tanatologia ou em pacientes em coma, em que a lucidez, segundo a medicina é zero, podem fazer verdadeiros milagres. Isto é fato. Estudos baseados e evidências mostram esta realidade.

O mais interessante é que esta energia do amor é renovável. Isto é: quanto mais você proporciona , mais ela se multiplica, mais ela cresce dentro do sistema. Imagine o quanto esta afirmação pode impactar na vida dos cuidadores familiares do paciente?

Deixa eu explicar de outra maneira, mostrando o exemplo do oposto da amorosidade, que é o mais comum acontecer. Quando os familiares desgastados, irritados e “desamorosos”, por conta de cuidar de um doente que já está na fase avançada do Alzheimer, se encontram energeticamente com uma sobrecarga negativa, que aumenta como se fosse uma enorme “bola de neve” e tende a avolumar dia a dia.

Como seria escolher criar uma “bola de neve” de amorosidade? Como seria criar oportunidades e possibilidades de encorpar uma estrutura de bases sólidas, suprindo energia para conduzir esta jornada, seja qual for o tamanho desta tempestade?

E é isto que eu tenho feito. É neste sentido que pretendo me aprimorar: acolhendo mais e cuidando melhor utilizando a energia da amorosidade. Dessa maneira, retribuo pelo presente da vida, quando ela me trouxe ao mundo e pelo amor recebido ao longo da minha vida.

Ela me ensinou a voar, a ser livre e independente. Espero, desta forma, corresponder e ajudá-la, não permitindo que esta doença tire sua liberdade e dignidade, ajudando-a a manter o seu espírito livre. É isto que descobri e isso que aprendi com o Alzheimer!

Também recomendo esse excelente vídeo que explica as causas do Alzheimer e como evitá-lo.

Mohamad Bazzi

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